“As pessoas são capazes de qualquer coisa”, diz a capa do thriller policial da escritora canadense Shari Lapena. De fato, esta frase diz muito sobre o livro em questão. Publicado recentemente no Brasil pela Editora Record, “O casal que mora ao lado” parte do sequestro de uma bebê para abordar questões como a ganância e o egoísmo. Mas o que começa de forma promissora acaba se perdendo em meio a personagens mal justificados e situações forçadas. Uma pena.
Compre o seu clicando aqui e ajude o Literasutra a crescer!
As vidas de Anne e Marco não são mais as mesmas desde que Cora nasceu. Durante os 6 meses da filha, poucas foram as vezes em que Anne saiu de casa, desestimulada por uma depressão pós-parto. Quando convidados para um jantar na casa de Cynthia e Graham, o casal vizinho, Anne e Marco enxergam a oportunidade perfeita para retomarem sua vida social. Como a anfitriã lhes pediu para não levar a filha (já que não suporta crianças chorando) e a babá contratada desmarca o compromisso em cima da hora, Marco garante que eles podem deixar a bebê dormindo em casa enquanto a monitoram pela babá eletrônica. Mas a noite se transforma em pesadelo quando sua filha é levada do próprio berço, deixando para trás o único descuido do sequestrador: a porta da frente levemente aberta.
O livro é um bom entretenimento, sem dúvida, mas de qualidade duvidosa no que se refere desde a criação de personagens até a escolha do título. “O casal que mora ao lado” dá a entender que o mistério se desenvolverá em torno dos vizinhos, mas se essa foi a intenção da autora, ela foi claramente mal sucedida. A narrativa se desenvolve sem pistas falsas convincentes, de forma que o leitor apenas acompanha, sem precisar fazer grande esforço de raciocínio.
E qual é o sentido de um thriller policial que não nos coloca no papel de investigador?
Aproveitando a deixa, usemos o policial que investiga o caso como exemplo de como a autora falhou na criação de personagens. O policial Rasbach é um personagem plano, sem camadas e sem motivações maiores além da previsível “vou solucionar esse caso”. Em nenhum momento da história o homem passa a sensação de estar sendo desafiado, e sua certeza inabalável nos guia para o mesmo caminho, que infelizmente não sai do curso em momento nenhum. Outra personagem empobrecida, apesar da tentativa da autora de lhe dar um passado interessante, é a protagonista Anne. Suas atitudes e pensamentos, apesar de teoricamente justificados pela depressão pós-parto, na prática só servem como pretexto da autora para acrescentar algumas páginas à história, não convencem.
Alguns livros conseguem nos colocar no lugar do personagem, nos fazer sentir ao menos uma parcela do seu drama. Mas este não é o caso de “O casal que mora ao lado”. Shari Lapena simplesmente nos conta a história como num relato mal estruturado, causando nosso distanciamento. E distanciamento é última coisa que você quer causar em um leitor, concorda?
“O casal que mora ao lado”
(The couple next door)
Autora: Shari Lapena
Editora: Record
Páginas: 294
*Enviado pela editora
Compre clicando aqui e ajude o Literasutra a crescer! ❤
Resenha perfeita, Mona!
Eu tô muito a fim de ler esse livro. Depois do que você escreveu, menos afim, mas ainda curiosa.
Uma pena, um livro que promete tanto, se perder dessa maneira.
Beijos.
Lorena.
CurtirCurtir
Lore, eu acho que você deve ler mesmo assim. Eu tenho visto tanta gente amando esse livro… E você pode perfeitamente ser uma delas! 🙂 Se a gente morasse pertinho eu emprestava o meu pra você.
CurtirCurtir